segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Caça Submarina: APNEIA.


Sem sombras de dúvidas, a maior preocupação que aflige a maioria dos praticantes da caça submarina é a apneia. Entende-se por apneia a parada da respiração e, esse tempo que o mergulhador necessita para alcançar sua caça sob a água, é fundamental para o sucesso no esporte. Assim que comecei a praticar o mergulho profundo em apneia tive um choque com a distância alcançada por mergulhadores mais experientes, como também com o tempo em que os mesmos permaneciam sob a água. Observar um mergulhador sem respirar por alguns minutos enquanto se aprofunda mais de vinte metros e procura uma presa é uma experiência incrível, mas parece ser um feito inalcançável para um iniciante. Durante meses eu procurei me informar sobre a apneia e como poderia aprimorar a minha técnica, que até então simplesmente não existia. Procurei por livros e artigos espalhados pela rede mundial e vou resumir aqui alguns dos meus aprendizados. A apneia é dividida em duas categorias: Estática e Dinâmica. Entende-se por apneia estática aquela que se pratica sem se movimentar, fazendo o corpo gastar o mínimo de oxigênio possível e conservando por um maior período esse gás valioso dentro dos pulmões. Dessa forma o esportista pode permanecer por mais tempo sem respirar, alcançando marcas maiores de tempo. De forma inversa, a apneia dinâmica é realizada quando o praticante exerce algum movimento muscular enquanto prende a respiração, gastando a reserva de oxigênio para gerar energia e diminuindo o tempo de apneia. Durante o mergulho profundo em apneia, o mergulhador exerce a apneia dinâmica, enquanto realiza a descida até o solo do mar, e a apneia estática enquanto permanece imóvel na espera pela sua presa, até ter que voltar para a superfície sobre as águas e poder respirar novamente. Hoje em dia, eu que sou um mergulhador iniciante, já estou conseguindo passar um pouco mais de três minutos em apneia estática e um pouco mais de um minuto e trinta segundos em apneia dinâmica. Embora esteja ciente de que essas médias ainda estão abaixo das de um praticante experiente e também já tenha ouvido falar de marcas de mais de seis minutos, ainda considero essas metas completamente impossíveis de serem alcançadas. A melhor maneira que encontrei até o momento para otimizar os meus tempos em apneia foi a seguinte: em primeiro lugar eu realizo uma respiração bem lenta, enchendo os meus pulmões até o total de sua capacidade, depois esvaziando os mesmos completamente, sempre bem lentamente e durante três minutos. Após esse período eu encho rapidamente o meu pulmão, primeiro a sua região abdominal, depois sua área central e por último a região superior, e prendo a respiração. Nesse momento o mergulhador deve descer até a região que deseja alcançar, sempre realizando o mínimo de movimentos para economizar o oxigênio (uma nadadeira boa permite alcançar maiores distâncias com o mínimo de esforço). O compromisso entre esforço, amplitude e freqüência de perna, proporciona uma progressão correta e rentável debaixo de água. Algumas dicas:
- Os joelhos muito fétidos fazem a perna entrar em atrito à água travando a progressão, logo o esforço despendido é maior e a deslocação inferior.
- Os joelhos muito juntos podem fazer a barbatanas tocarem uma na outra perdendo a eficácia.
- As pernas constantemente rígidas não dão fluidez ao movimento e aplicam muita energia. - Uma amplitude de perna muito grande não só retarda a progressão como também não permite um boa freqüência.
- Uma amplitude reduzida não dá tempo à pala da barbatana para trabalhar
- A posição incorreta do corpo provoca também mais atrito e este fato verifica-se mais na descida devido ao constante olhar para o local escolhido no fundo, o corpo forma um arco prejudicando o hidrodinamismo.
- Voltando ao compromisso j á acima referido, o praticante deve durante o treino e ou ação de caça, partir para a interiorização do seu movimento. Tirar partido do impulso de cada pala doseando a energia aplicada para o efeito, deve sentir o seu corpo a progredir com a maior velocidade, mas com o menor esforço possível.
Um tempo seguro para a subida deve sempre ser reservado, lembrando que será consumido bastante oxigênio pelos músculos até atingir a superfície. Após a apneia, recomenda-se o mínimo de três minutos repetindo a respiração que expliquei mais acima do texto, antes de mergulhar novamente. Particularmente, eu passo quatro minutos entre um mergulho e outro para garantir a minha segurança. As primeiras descidas devem ser com um tempo reduzido de apneia, para poder adaptar o pulmão gradativamente à falta de ar. Durante os mergulhos, quanto maior a profundidade atingida, menos oxigênio será consumido pelo organismo. A hiper-ventilação deve ser completamente evitada, pois a mesma aumentará os níveis de oxigênio circulando em nosso corpo, consequentemente diminuindo os níveis de gás carbônico (responsável pelo alarme orgânico que indica os níveis baixos de oxigênio), gerando um quadro de tranqüilidade durante a apneia que engana o mergulhador e causa o apagamento, que é a principal causa de mortes no esporte. Por ser tão freqüente os desmaios durante o mergulho profundo, um parceiro que consiga atingir as mesmas marcas que você deve estar sempre de prontidão, alternando as decidas durante o mergulho. A prática é a melhor forma de aprimorar a técnica e uma piscina é um local ótimo para realizar exercícios em apneia, sempre acompanhado por um parceiro. Nadar sob a água é um bom exercício e complementar o treinamento com exercícios aeróbicos é aconselhado por vários profissionais da área. Alcançar metas mais profundas exige muito esforço, quer em termos físicos quer no âmbito de preparação mental. Espero que tenha ajudado. Obrigado e até a próxima caçada.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

"Carreira d'água"


Nesse último sábado, dia 21 de agosto, participei de um mergulho nos “batentes”, partindo da praia Muriú juntamente com meus dois amigos Renato e Tiego. Como há muito tempo a água não fica limpa na costa, decidimos mergulhar em águas mais profundas, na esperança de encontrar qualidades ideais para a prática do mergulho. Embarcamos no “bote” de Bahia e rumamos para o azul, com as expectativas melhores possíveis. Durante todo o dia choveu e com a chuva veio o frio, condição combatida com um bom neoprene. Atualmente utilizo uma roupa de neoprene da mormaii, com espessura de 3.2mm, e estou muito satisfeito com a mesma. Mesmo sobre um bom barco, seguro, amplo e com um motor de três cilindros, demoramos duas horas para chegar ao primeiro “cabeço”, o “cabeço da bicuda”. A água estava linda, “roxa”, como nunca havia presenciado. Mas, mesmo com uma visibilidade de trinta metros, a profundidade de cerca de vinte e dois metros, juntamente com a forte correnteza, dificultaram a pescaria. Nunca estive em águas tão fortes. A “carreira d’água” estava de tal forma que em uma “descida” para o cabeço, reaparecíamos cerca de vinte metros mais distantes. Mesmo assim insistimos. Logo no primeiro mergulho deu para escutar os sons provocados por baleias e esses guinchados me acompanharam por todo o mergulho, fato novo para mim e muito prazeroso. Foi até possível avistar um filhote de baleia pulando sobre a água há certa distância do barco. Sob a água eu vislumbrei uma linda arraia chita, algumas pequenas arraias-de-fogo e uma bela tartaruga se alimentando entre rochas. Não encontramos peixes bons e logo partimos para outro cabeço. Rumamos para o “batentinho” e lá encontramos mais biodiversidade. Um imenso cardume de salemas nos recebeu, além dos peixes reis prateados, dentões sob as pedras, arraias-de-fogo na areia, cardumes de saberés, uma linda “gostosa” que me enganou, pois se parecia muito com uma moréia, pequenas serras, dentre outras espécies. O ambiente estava bastante propício para a caça se não fosse a “carreira d’água” que aumentava com a maré e impossibilitava o mergulho. Tentamos insistentemente caçar, mas fomos limitados pela correnteza, de tal forma que nunca havia presenciado. Explorar a região em torno do barco ficou impossível e a nossa única alternativa foi ficar segurando em uma corda presa ao barco e limitar o mergulho a um único local, acima do cabeço. Resultado da pescaria? Fraca. Apenas o suficiente para o almoço (foto acima), que por sinal estava delicioso. Voltamos muito cansados, mas sem arrependimentos. A busca por uma água perfeita continua. Abraços.