segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A Busca do Mergulho Perfeito


Achei muito bacana esse artigo da Karol, olhem aí:

Ter participado, recentemente, da clinica de mergulho livre com o amigo e recordista mundial Patrick Musimu, para mim o astronauta das profundezas, o homem que chegou à 209,6 m de profundidade, fez com que eu repensasse algumas questões sobre o mergulho. Sua marca foi além de um simples recorde, foi a realização de um sonho, de uma conquista dentro e fora da água. Quando perguntei à ele o que era o mergulho livre, recebi a seguinte resposta:
“O mergulho em apnéia não é somente um esporte, é uma arte onde o progresso é sinônimo de compreensão e aceitação. Patrick Musimu.” (http://www.patrickmusimu.com)
Sabemos que o mergulhador sempre está atrás do maior tempo, maior profundidade submerso, numa procura incessante por superação, sem dúvida um extremo deste esporte. Há também um outro lado, o lado do mergulho contemplativo e de sensações, ou o de realização de um sonho, cujo prazer é sem dúvida indescritível.
Pois bem, o mergulho perfeito então qual seria ? Aquele onde conseguiríamos dar o nosso melhor, porém tendo a performance como uma consequência natural, sem exigências ou cobranças, sem violentar o organismo, e ao mesmo tempo aproveitando os prazeres do mergulho ao máximo !
Por onde começamos então ?
Os primeiros passos se iniciam fora da água:
Estabeleço metas e rituais de treinamento que me permitirão atingir a performance desejada. Esta etapa é difícil, considerando-se o pouco apoio que temos para o esporte, mas ainda assim o sonho vai para o papel e buscamos pelo planejamento dos treinos para chegar no resultado final. Procuro estabelecer uma marca inicial e uma final. Mas é muito importante não gerar um stress excessivo, não deixar que pressões externas ou mesmo internas, retirem de você o prazer em praticar o mergulho livre. Se o seu objetivo for somente por marcas, está no lugar errado, nosso corpo assim como o mar variam muito, será preciso compreender as oscilações e lidar com isto, não fazemos recordes a cada treinamento, o mergulho livre exige paciência e compreensão do nosso corpo.
Qual o treinamento ?
O apneista não é um semi-Deus. Normalmente as pessoas vêem o apneista como um ser anormal, como se fosse necessário nascer com alguma dádiva divina para se poder praticar apnéia... Não somos malucos nem mágicos não! Qualquer pessoa pode praticar apnéia, salvo algumas exceções: cardíacos e hipertensos, os interessados, tendo seus exames médicos em dia, poderão praticar o mergulho livre de forma segura.
É preciso estar bem condicionado, desenvolvendo trabalhos aeróbicos com limiar anaeróbico de moderado a alto. A apnéia é incluída aos poucos, de forma gradativa, permitindo que o organismo se adapte quimicamente às mudanças: tolerância a hipercapnia, hipoxia, caixa toráxica imóvel, acidose, aceitação das contrações musculares, pressão hidrostática.
Com aproximandamente 2 meses de treinamento podemos ter significativas melhoras ! Tenha paciência.
Para interessados em aprender, tenho cursos de vários níveis: (http://www.karolmeyer.com/cursos.php)
Busco por segurança nos treinos: o mergulho livre é um esporte de risco, qualquer falha na segurança pode ser fatal. Não existe mergulho sozinho, ainda que as pessoas assistam à imagens de recordes onde somente vêem o atleta, é importante saber que sempre há uma estrutura por trás, pessoas que garantem a segurança nos treinos e nas performances de recorde. Ao iniciar os treinamentos, será necessário formar uma dupla ou um grupo de treino com pessoas que deverão estar aptas a fazer uma correta supervisão durante a apnéia e também um socorro imediato se necessário.
Praticar apnéia sozinho? JAMAIS ! É tentador, mas muitos que não resistiram à tentação, não estão mais aqui para contar como foi este último mergulho... No dia que não puder contar com o seu dupla, faça apnéia fora da água.
Antes de entrar na água, leia : (http://www.aidabrasil.com.br/seguranca.php)
E a respiração como está ?
Normalmente respiramos mal, de forma superficial, devido ao stress diário. Para praticarmos um mergulho perfeito, será necessário uma respiração de amplitude moderada a ampla, em torno de 6 a 8 respirações por minuto, dando ênfase para a respiração abdominal e destinando uma respiração completa para os últimos segundos.
Ainda antes de partir para o mergulho:
Nunca é demais lembrar: CUIDADO PARA NÃO HIPERVENTILAR! Ao sentir qualquer formigamento, pare, não mergulhe, se reestabeleça primeiro. Isto significa que você já está em hipocapnia (baixa de CO2 no organismo) e, por consequência, hiperventilado.
Partindo de bem com a vida, em paz:
O momento de partir para o mergulho também é crucial, procure não deixar o stress tomar conta, pense no mergulho em etapas, isto o ajudará a não negligenciar nenhuma delas, sobretudo a respiração correta que antecede à partida/virada na água. Este momento exige concentração, hidrodinamismo e agilidade para vencer os primeiros 10 metros de profundidade. Lembre-se: depois de partir não é momento para pensar se respirou bem ou que deveria ter dado mais uma inspiração completa... O mergulho já se iniciou e você fará o melhor possível, não deixe a mente intervir com pensamentos negativos.
E agora que já estou submerso ?
* Cada músculo tensionado sem necessidade está consumindo o precioso O2, relaxe-os;
* É muito importante a procura pela postura correta e o hidrodinamismo, que também é uma forma de se economizar energia.
* Não esqueça de compensar ! Principalmente nos primeiros metros.
Lembre-se de que a maior variação de pressão está ali, entre a superficie e os - 10 metros, negligenciar a compensação ou optar por uma manobra que dispenda muito oxigênio, poderá fazer com que você interrompa o mergulho antecipamente;
* Jamais faça uma manobra de Valsava forçada, poderá sofrer um acidente, até mesmo romper o seu tímpano!
Costumo sugerir e praticar com meus alunos a Manobra de Frenzel onde utilizamos o ar da boca e a língua como um pistão que empurra o ar para a tuba auditiva e equaliza as pressões.
http://www.aidabrasil.com.br/artigos/art_frenzel_karol.doc
* Adapte-se à profundidade progressivamente: quanto mais fundo mergulhamos é normal que a cada metro o stress aumente. Nosso cérebro consome 25% do nosso O2, já imaginou estressado ? Avançando pouco à pouco, conseguimos evitar esta situação ou pelo menos minimizá-la. Só avance quando estiver dominando a profundidade anteriormente alcançada;
* Acerte o lastro, procurando estar neutro entre os 10m a 15m de acordo com a profundidade que irá atingir;
* Use uma roupa confortável, observe se ela não dificulta a sua respiração e se está realmente te protegendo do frio;
* Cheque se sua máscara está bem adaptada ao rosto e dê preferência às máscaras com menor volume interno;
* A nadadeira é apropriada ? Opte pelas nadadeiras de pescasub, com calcanhar fechado, longas, a rigidez dependerá do seu condicionamento e estrutura física;
* Procure sentir o mergulho, a velocidade de descida e subida, a flutuabilidade, tirando proveito de ambas para economizar oxigênio;
* Mantenha sempre o foco, não deixe pensamentos ruins tomarem conta de seus pensamentos. Nos momentos difíceis, não desista, você poderá se manter consciente por mais tempo evitando ou retardando um acidente;
* Dê um tempo para os “medidores de performance”, esqueça o relógio, o profundímetro em casa. Já dizia o saudoso Mayol:“A melhor apnéia nós encontraremos quando desistirmos de procurá-la!”.
Pude confirmar a veracidade desta frase em vários momentos...um dos meus melhores tempos de apnéia estática foi feito num dia que entrei na água para fazer um treino de hipercapnia, não havia a pretensão de realizar um recorde e cheguei facilmente lá.
Outra destes momentos foi um mergulho no lastro constante somente buscando sentir as sensações do meu corpo, a beleza do mar, foquei a visão em duas barracudas que me acompanhavam, um momento maravilhoso que ficará guardado para sempre.
Vale deixar aqui um bela frase de Musimu:
“Abra o seu coração e escute o susurro do mar, a senha de acesso para ele está dentro de você mesmo!”
No silêncio e na grandeza do mar, o que buscamos mesmo, bem lá no fundo, é por uma maior compreensão de nós mesmos.
Desejo que cada um consiga chegar no seu mergulho perfeito um dia, aquele mergulho que é, acima de tudo, sinônimo de paciência, adaptação, treinamento e compreensão de si mesmo, onde o fundamental é o sentir-se bem dentro da água.

Por Karol Meyer.

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